Medidas fitoterápicas adotadas como alternativa emergencial nos acidentes ofídicos no Sertão de Alagoas
DOI:
https://doi.org/10.17648/diversitas-journal-v6i1-1449Palabras clave:
medicina popular, medidas emergenciais, serpentesResumen
Os acidentes por animais peçonhentos no Brasil são frequentes e constituem um sério problema de saúde pública. Dentre os principais acidentes destaca-se o ofidismo, em virtude de sua frequência e gravidade. Nesse cenário, práticas populares, como o uso de plantas medicinais, são utilizadas em casos de acidentes ofídicos. As plantas medicinais são os recursos alternativos mais empregados nessas práticas, sendo aplicadas tanto como complemento a soroterapia quanto como medida medicinal alternativa quando não há acesso à soroterapia. Nesse contexto, objetivou-se investigar as medidas fitoterápicas emergenciais adotadas nos casos de acidentes provocados por serpentes, além de traçar o perfil epidemiológico das vítimas desses acidentes. Trata-se de um estudo qualitativo e descritivo, realizado no munícipio de Olho D’água das Flores e desenvolvido no período de 2016 e 2017. Adotou-se o método bola de neve e os entrevistados foram selecionados mediante os critérios de idade igual ou superior a 18 anos, e serem moradores da região que tivessem informações acerca de casos de acidentes com serpentes. Para a coleta de dados aplicou-se questionários semiestruturados aos entrevistados que tiveram sua participação condicionada a assinatura de um TCLE. Os dados coletados foram registrados no programa Microsoft Excel 2010, para posterior análise e produção de gráficos e tabelas. Registrou-se um total de 68 casos de ofidismo, a maior parte das vítimas foi do sexo masculino (57,35%; n= 39). A faixa etária predominantemente foi de 38 a 78 anos (59%; n=41). A maioria dos entrevistados também não apresentou escolaridade completa (39,7%; n=27) e o local de maior ocorrência dos acidentes foi o ambiente de trabalho (86,77%; n=59). Com relação às medidas emergenciais tomadas 70,6% (n=57) não tiveram atendimento médico, 73,53% (n=50) fizeram uso de plantas medicinais, a folha (11,76%; n=8) foi a parte mais utilizada e a compressa (29,41%; n= 20) a forma de preparo mais relatada. As plantas apresentam potencial medicinal em virtude da presença de metabólitos e princípios ativos que lhes conferem propriedades curativas. Apesar de muitas plantas não apresentar potencial antiofídico comprovado na literatura científica, elas podem contribuir para a evolução no quadro clínico dos indivíduos vítimas do ofidismo. Entretanto, mesmo com efeitos positivos, é importante salientar que esta prática não substitui a necessidade do uso do soro antiofídico. Com isso, ressalta-se a importância de estudos com o intuito de investigar as possíveis propriedades antiofídicas nas plantas para que elas possam atuar de forma complementar no tratamento destes acidentes.
Métricas
Citas
ALBUQUERQUE, P. L. M. M. et al. Epidemiological profile of snakebite accidents in a metropolitan area of northeast Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 55, n. 5, p. 347-351, 2013.
ALVES, I. A. B. S. Estudo farmacognóstico e etnofarmacológico de Croton cordiifolius Bail. (Euphorbiaceae). Tese (Doutorado) –Universidade Federal de Pernambuco, CCS. Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. Recife, 2017.
ANDRADE, M. A. et al. Óleos essenciais de Cymbopogonnardus, Cinnamomum zeylanicum e Zingiber officinale: composição, atividades antioxidante e antibacteriana.Revista Ciência Agronômica, v. 43, n. 2, p. 399-408, 2012.
ARNOUS, A. H. Plantas medicinais de uso caseiro -conhecimento popular e interesse por cultivo comunitário.Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.6, n.2, p.1-6, 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Acidentes por animais peçonhentos: o que fazer e como evitar.2017. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/acidentes-por-animais-peconhentos. Acesso em: 02 fev. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos.2 ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/funasa/manu_peconhentos.pdf. Acesso em: 05 fev. 2019.
BRASIL.Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Agravos de Notificação –Sinan.2014. Disponível em: http://portalsinan.saude.gov.br/dados-epidemiologicos-sinan. Acesso em: 3 set 2018.
BUENO, M.J.A. et al.Manual de plantas medicinais e fitoterápicos utilizados na cicatrização de feridas. Porto Alegre: Univás, 2016.
BUTT, M. A. et al. Ethnomedicinal uses of plants for the treatment of snake and scorpion bite in Northern Pakistan. Journal of Ethnopharmacology, v. 168, p. 164-181, 2015.
CONCEIÇÃO, S.F.S.M. Efeitos do Gengibre, do Alho e do Funcho na Saúde.2013. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas), Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2013.
CORTEZ, L.E.R.; JACOMOSSI, E.; CORTEZ, D.A.G. Levantamento das plantas medicinais utilizadas na medicina popular de Umuarama, PR.Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR,v. 3, n. 2, 1999.
COSTA, T. R. Avaliação da atividade antiofídica do extrato vegetal de Anacardium humile: Isolamento e caracterização fitoquímica do ácido gálico com potencial antimiotóxico.2010. Dissertação (Mestrado em Toxicologia), Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto/USP. Ribeirão Preto, 2010.
CREMONEZ, C. M. Estudo da ação antiofídica do extrato das folhas e do suco de graviola (Annona muricata) no envenenamento por Lachesis muta rhombeat.2011. Dissertação (Mestrado em Toxicologia). Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto/US, Ribeirão Preto, 2011.
DE LUCENA, M. N.; MENDES, M. M.; BRANDEBURGO, M. I. H. Avaliação da estabilidade da pomada à base de Stryphnodendron adstringens(Mart.) Conville e sua eficácia na neutralização dos efeitos induzidos pela peçonha de Bothrops pauloensis.Horizonte Científico, vol. 3, nº 1, 2009.
DE PAULA, R. C. Efeito de extratos vegetais sobre atividades biológicas do veneno da serpente Lachesis muta.2009. Dissertação (Mestrado em Neuroimunologia), Universidade Federal Fluminense, NITERÓI-RJ, 2009.
DOS SANTOS, W. L. C. et al.Atividades farmacológicas e toxicológicas da Jatropha curcas(pinhão-manso).Revista Brasileira de Farmácia, v. 89, n. 4, p. 333-336, 2008.
FERREIRA, P. M. P. et al.Folk uses and pharmacological properties of Casearia sylvestris: a medicinal review.Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 83, n. 4, p. 1373-1384, 2011.
FREITAS, V. S. et al. Propriedades farmacológicas da Aloe vera(L.) Burm. f.Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 16, n. 2, p. 299-307, 2014.
GUTIÉRREZ, J. M. et al. Snakebite envenoming. Nature reviews Disease primers, v. 3, n. 1, p. 1-21, 2017.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/olho-dagua-das-flores. Acesso em: 02 mar. 2019.
KASTURIRATNE, A. et al.The global burden of snakebite: a literature analysis and modelling based on regional estimates of envenoming and deaths. PLOS Medicine, v. 5, n. 11, p. e218, 2008.
LIMA, I. O. et al.Atividade antifúngica de óleos essenciais sobre espécies de Candida.Brazilian Journal of Pharmacognosy, v. 16, n. 2, p. 197-201, 2006.
LIMA, N.G.P. et al. Urtica dioca: uma revisão dos estudos das suas propriedades farmacológicas.Revista Brasileira de Farmacologia, v. 89, n. 3, p. 199-206, 2008.
LORENZI, H. e MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora LTDA, 2ed. 2008.
MAGALHÃES, C. S. et al. Aspectos epidemiológicos e clínicos dos acidentes ofídicos ocorridos nos estados de Alagoas e de Pernambuco. Revista Saúde e Meio Ambiente, v. 10, n. 1, p. 119-132, 2020.
MARTINES, M.S. Monique Silva. Efeitos da fitoterapia na injúria renal aguda induzida pela peçonha de Bothrops jararaca. Dissertação (Mestrado em Ciências) -Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina, 2013.
MATOS, R. R.; IGNOTTI, E. Incidence of venomous snakebite accidents by snake species in Brazilian biomes. Ciencia & Saude Coletiva, v. 25, n. 7, p. 2837-2846, 2020.
MISE, Y. F. et al. Time to treatment and severity of snake envenoming in Brazil. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 42, p. e52, 2018.
MONTEIRO M. H. D. et al.Toxicological evaluation of a tea from leaves of Vernonia condensate.Journal of Ethnopharmacology, v.74, p.149-157, 2001.
MOURA, V. M. Efeitos de extratos vegetais sobre atividades biológicas induzidas por peçonhas botrópicas.SANTARÉM, 2012.
NETO, F. R. G. et al.Estudo Etnobotânico de plantas medicinais utilizadas pela Comunidade do Sisal no município de Catu, Bahia, Brasil.Revista Brasileira de Plantas Medicinais.Botucatu, v. 16,n. 4,p. 856-865, 2014.
OLIVEIRA, H.F.A. et al. Relatos de acidentes por animais peçonhentos e medicina popular em agricultores de Cuité, região do Curimataú, Paraíba, Brasil. Rev Bras Epidemiol, 2013.
OPAS.Organização Pan-americana de Saúde Brasil. Doenças Tropicais Negligenciadas.2018. Disponível em:https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_joomlabook&view=topic&id=37&Itemid=232#:~:text=S%C3%A3o%20doen%C3%A7as%20tropicais%20negligenciadas%3A%20%C3%BAlcera,raiva%2C%20esquistossomose%2C%20helmint%C3%ADase%20transmitida%20pelo. Acesso em: 14 de Ago. de 2020.
QUIRINO, T. F. Avaliação do potencial inseticida de solução de Nicotiana tabacum L. (Solanacea) para o controle de Aedes aegypti (L.) (Diptera: Culicidae). Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) -Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, 2010.
ROCHA, A. P. Análise comparativa dos aspectos epidemiológicos e clínicos dos acidentes ofídicos causados por espécies do gênero Bothrops em Santa Catarina. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) –Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas, Florianópolis, 2018.
SANTANA, V. T. P.; BARROS, J. O.; SUCHARA, E. A. Aspectos clínicos e epidemiológicos relacionados a acidentes com animais peçonhentos. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, v. 14, n. 2, 2015.
SANTANA, V. T. P.; SUCHARA, E. A. Epidemiologia dos acidentes com animais peçonhentos registrados em Nova Xavantina–MT.Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, v. 5, n. 3, p. 141-146, 2015.
SILVA, J. F. Efeito inibitório do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia L. contra a toxicidade local e sistêmica da peçonha da serpenteBothrops erythromelas. Tese (Doutorado em Bioquímica) -Programa de Pós-Graduação em Bioquímica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2018
SOUZA, C. D.; FELFILI, J. M. Uso de plantas medicinais na região de Alto Paraíso de Goiás, GO, Brasil.Acta Botanica Brasilica, v. 20, n. 1, p. 135-142, 2006.
USHANANDINI, S. et al.The antiophidian properties of Anacardium occidentalebark extract. Immunopharmacology and Immunotoxicology, v.31, p.607-615, 2009.
VILAR, J.C. Ofidismo em Sergipe: epidemiologia e plantas da caatinga utilizadas popularmente como antiofídicas.Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente). Universidade Federal de Sergipe, São Cristovão-SE,2004.
VILAR, J.C.; DE CARVALHO, C.M.; FURTADO, M.F.D. Effects Of The Aqueous Extracts Of Plants Of The Genera Apodanthera(Cucurbitaceae) And Jatropha(Euphorbiaceae) On The Lethality Of The Venom Of Bothrops jararaca(Serpentes, Viperidae).Biologia Geral e Experimental. 2007.
VINUTO, J. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, n. 44, 2014.
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2021 Adriano José dos Santos, Janielly Maria Pereira Santos Costa, José Cleferson Alves Ferreira da Silva, Maria Lusia de Morais Belo Bezerra, Solma Lúcia Souto Maior de Araújo Baltar
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
O periodico Diversitas Journal expressa que os artigos são de unica responsabilidade dos Autores, conhecedores da legislação Brasileira e internacional. Os artigos são revisados pelos pares e devem ter o cuidado de avisar da possível incidencia de plagiarismo. Contudo o plagio é uma ação incontestavel dos autores. A Diversitas Journal não publicará artigos com indicios de Plagiarismos. Artigos com plagios serão tratados em conformidade com os procedimentos de plagiarismo COPE.
A violação dos direitos autorais constitui crime, previsto no artigo 184, do Código Penal Brasileiro:
“Art. 184 Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. § 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”